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Paciente de Ubá que esteve internada por seis dias com Covid-19 conta sua experiência ao passar pela doença

Publicado por: , em 01/06/2020 - Categoria: CIDADE

Tempo de leitura: 5 minutos

Valesca é natural de Juiz de Fora, mas reside em Ubá há 10 meses com o seu esposo e o filho de 13 anos. Foto: Arquivo Pessoal

A crise gerada pela Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, tem proporcionado um forte impacto na vida das pessoas, especialmente daquelas que contraem o vírus. A perda da rotina, o preconceito das pessoas, o medo de como o organismo irá reagir ao vírus, dentre tantos outros fatores tornam o momento que estamos vivendo cada vez mais delicado e incerto.

Na Cidade Carinho, o primeiro caso se confirmou no dia 5 de abril e de lá pra cá, o número tem aumentado cada vez mais, motivo de preocupação para a população local e das cidades vizinhas.

Uma das pessoas residentes em Ubá a testar positivo para Covid-19 é Valesca Aparecida Pereira de Souza, de 40 anos. Ela é natural de Juiz de Fora, mas mora no município com o esposo e seu filho de 13 anos no bairro Inês Groppo. Em um bate papo com a equipe de reportagem do portal Fato!, Valesca conta sua experiência com o novo coronavírus.

Segundo nossa entrevistada, ela realiza um tratamento médico em Juiz de fora e visita a cidade com certa periodicidade. “Eu tinha uma consulta marcada para o dia 28 de abril, e o aniversário da minha mãe de 60 anos (que é residente em Juiz de Fora) aconteceria no dia 26 do mesmo mês. Embora já estivéssemos em processo de quarentena, até considerei que a consulta seria remarcada. Porém, mesmo atendendo um paciente por vez, minha consulta se manteve agendada e eu precisava ir, tendo em vista que a minha medicação estava acabando” detalha.

Valesca conta que aproveitou sua viagem para visitar sua mãe dois dias antes da consulta e lhe dar os parabéns. Ela afirma que foi pra lá sozinha, pois seu marido trabalha e seu filho é do grupo de risco.

“Na casa da minha mãe, moram ela, minha irmã e seus três filhos, sendo um autista de 10 anos, outro de 12 e um pequeno, de dois anos que ainda mama no peito. Lá, tive que sair para atividades básicas como ir ao supermercado e comparecer à minha consulta. No entanto, das vezes que precisei sair, tomei todos os cuidados necessários como o uso da máscara, utilização do álcool em gel, dentre os outros cuidados que são exigidos pelo Ministério da Saúde”.

No dia 30 de abril, dois dias após a consulta, Valesca relata que começou a sentir muita dor de cabeça “Muita mesmo! Ainda estava em Juiz de Fora e naquela noite dormi com a minha mãe na mesma cama. Na madrugada, tive muitos calafrios e acordei no dia 1º de maio com a mesma dor de cabeça, boca amargando, achando que era alguma coisa que havia comido. Quando cheguei à Ubá, comecei com diarréia, minha boca continuava a amargar, a mesma dor de cabeça e eu já havia me convencido de que era algo relacionado ao fígado”.

Na ocasião ela começou a se automedicar ingerindo chá de boldo, água tônica, soro e mesmo assim, nada de melhorar. No dia 2 de maio Valesca começou a ter febre, dores pelo corpo e falta de ar. “Três dias após a febre e falta de ar, me desloquei para o Hospital São Vicente de Paulo e relatei todos os meus sintomas. Receitaram-me Azitromicina e outro remédio que não me recordo o nome. No entanto, ao chegar em casa e ao tomar a medicação, fiz vômito. Já no dia 7 de maio, voltei ao hospital, pois não melhorava e então me internaram” conta e lamenta ter protelado tanto sua ida a uma unidade de saúde por acreditar que seus sintomas estavam relacionados ao fígado.

Valesca relata que foi rapidamente atendida no setor de Covid-19 do Hospital São Vicente de Paulo onde recebeu medicação venosa para febre e dor. “No outro dia já comecei a tomar Azitromicina e Tamiflu, e fui levada de ambulância para o Hospital Santa Isabel para fazer a tomografia do pulmão. Quando voltei, me informaram que tinha dado positivo na ressonância. Depois fizeram a coleta do teste que também deu positivo para Covid-19”.

Segundo Valesca, naquele momento, seu mundo caiu. Ela declara que ficou desesperada, que chorou muito e sentiu medo de morrer. “Minha respiração ficava cada vez mais difícil e tive que ficar no oxigênio. Mas o pior para mim foi ter que ficar sozinha num quarto. Além disso, fiquei muito preocupada com as pessoas que tive contato (minha mãe, meu esposo, filho, irmã, amigos, sobrinhos…). Foi um pesadelo. Mas durante os dias que estive lá, sempre passava uma enfermeira perguntando como eu me sentia e me dava uma palavra de conforto” desabafa.

Após o diagnóstico nossa fonte ressalta que avisou a todas as pessoas que tivera contato sobre a sua testagem positiva para a doença. A partir de então, todos fizeram o exame e dos resultados, sua mãe testara positivo para o novo coronavírus.

“Ela foi a Santa Casa de Juiz de Fora, fez um exame e foi diagnosticada com dengue. Voltou para casa com medicação para tratar de dengue. Porém, no outro dia ligaram pra ela da Santa Casa pedindo que voltasse lá, pois o exame estava errado. Realizaram o teste novamente para dengue (que deu negativo) e desta vez, para Covid-19 que deu resultado positivo. Internaram minha mãe imediatamente, mas graças a Deus ela teve sintomas leves, pois foi diagnosticada e tratada rapidamente”.

Apesar de todo o acompanhamento médico e zelo da equipe de enfermagem, nossa entrevistada confessa que a solidão do isolamento e de não poder ver a família é a parte mais difícil de passar pela doença.

“No meu tratamento, as medicações que usaram em mim foi Azitromicina, Hidroxicloriquina, Tamiflu e injeções para não dar trombose. Após a tão esperada alta, a médica me passou mais cinco dias de tratamento com a Azitromicina e a hidroxicloriquina. Custei encontrar a hidroxicloriquina. Meu esposo procurou em várias farmácias, mas só conseguiu através da fórmula manipulada” relata.

Valesca fez o isolamento em casa do dia 12 de maio até o dia 20, pois a contagem é desde os primeiros sintomas. Ela explica que seu quarto possuía banheiro e que seu esposo lhe entregava as refeições portando luvas e máscara, além de lavar os talheres de suas refeições com álcool 90 e sabão.

“A medicação me deixou com muita diarréia, mal-estar e não conseguia comer quase nada. Emagreci 4 quilos. Infelizmente depois que saí da quarentena fiquei sabendo de muitos comentários negativos a meu respeito em Juiz de fora. As pessoas começaram a me tratar como uma leprosa. É como se eu tivesse escolhido contrair o vírus. Fiquei muito triste, até as pessoas que tiveram contato comigo eram rejeitadas e discriminadas no lugar onde viviam em Juiz de fora. Já aqui em Ubá me pediram pra fazer um depoimento no grupo de notícias da cidade falando sobre o uso da cloroquina. Recebi mais de 600 mensagens positivas, muito carinho e gratidão por ter compartilhado minha experiência. Várias pessoas agradeceram afirmando que ficaram mais tranqüilas após lerem o meu relato” confessa.

Valesca encerra nosso bate papo agradecendo a vitória de ter passado pela Covid-19 e ter saído de tudo isso com saúde. Ela fez questão de agradecer a ajuda de todos os profissionais do Hospital São Vicente e ao seu esposo que esteve ao seu lado em todos os momentos: “Não desejo essa vivência a ninguém. Infelizmente nenhum de nós está imune ao vírus. Com a minha experiência, o que eu peço a vocês é que ao terem quaisquer dos sintomas que estejam relacionados ao vírus, corram imediatamente para unidade de saúde, pois quanto mais rápido você é diagnosticado e iniciar o tratamento, menos graves serão as conseqüências” encerra.