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Pesquisadores desenvolvem exame de sangue capaz de diagnosticar cinco tipos de câncer

Teste foi capaz de detectar a doença até 4 anos antes que métodos convencionais

Publicado por: , em 22/07/2020 - Categoria: SAúDE E BEM-ESTAR

Tempo de leitura: 3 minutos

Células de câncer de pâncreas (núcleos em azul) crescendo dentro de membrana (vermelho) | Foto: National Institute of Health (NIH)

RIO — Um estudo publicado na revista “Nature Communications”, do grupo “Nature”, um dos mais importantes do mundo, descreve o desenvolvimento de um novo exame de sangue capaz de detectar 5 tipos de câncer de forma precoce. Criado por pesquisadores da China e da Califórnia, nos Estados Unidos, o teste conseguiu detectar os cânceres colorretal, de estômago, esôfago, pulmões e fígado até 4 anos antes que métodos convencionais.

O teste, chamado de “PanSeer”, conseguiu detectar câncer em 95% das pessoas que foram diagnosticadas com a doença de 1 a 4 anos depois de fazer o exame, mas que ainda não tinham sintomas na época da coleta. O índice de acerto foi de 91% no câncer de esôfago, e chegou a 100% no câncer de fígado.

O exame também foi capaz de detectar a doença em 88% das pessoas que já tinham um diagnóstico de câncer na época do teste.

Os cientistas alertaram, entretanto, que o teste não funciona para prever quem terá ou não câncer. Na avaliação dos especialistas, exame provavelmente identifica quem já têm algum tipo de tumor, mas continua assintomático para os métodos de detecção atuais, e mais estudos são necessários para confirmar a capacidade do teste de detectar a doença nesses casos.

Para o oncologista Fernando Maluf, da Beneficência Portuguesa e do Hospital Albert Einstein, ambos em São Paulo, a descoberta, se tiver a eficácia confirmada em outros testes, é bastante positiva.

“Quanto mais cedo diagnostica, melhor é o prognóstico. O teste só tem vantagem se (a doença) se confirmar. Esses cinco tumores são muito graves, e só um deles tem rastreamento. Nos outros, o rastreamento nunca foi tão interessante”, disse o especialista ao G1.

O único exame de rastreamento disponível é a colonoscopia a partir dos 45 anos, e, no caso dos superfumantes, a tomografia, explica Maluf. Para os outros tipos de câncer, o que normalmente ocorre é que o paciente, procurando outra doença, acaba achando o tumor.

“Se o teste se configurar útil, provavelmente vao avaliar os mesmos mecanismos em outros tumores. Vai ser um dos maiores avanços possíveis: conseguir detectar e diagnosticar um câncer de forma tão precoce que a chance de cura é de quase 100%”, avalia.

Ressalvas para a detecção precoce

De acordo com Kun Zhang, da Universidade da Califórnia em San Diego e primeiro autor do estudo, o”objetivo final seria realizar exames de sangue como esse rotineiramente durante check-ups anuais, mas o foco imediato é testar pessoas com maior risco, com base no histórico familiar, idade ou outros fatores de risco conhecidos”.

Mas o oncologista Artur Katz, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, alerta que a detecção precoce só é válida se vier junto com um tratamento que permita mudar o curso da doença.

“Esse tipo de informação passa a ter valor se você conseguir demonstrar claramente que, ao se antecipar, consegue curar mais gente ou aumentar o controle da doença. A simples detecção dessas células – se você não consegue saber onde está e como tratar – pode tornar a vida da pessoa um inferno”, ponderou Katz ao G1.

O oncologista explica que, do ponto de vista científico, os resultados são “extremamente relevantes e bem-vindos”, mas, para a prática clínica, precisam ajudar a salvar vidas.

Matéria replicada do portal O Globo