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Países com desigualdade social, como Brasil, vão demorar mais para sair da pandemia, diz estudo da UFMG

Publicado por: , em 09/09/2020 - Categoria: BRASIL

Tempo de leitura: 5 minutos

Realizado em parceria com a Kunumi, organização dedicada ao desenvolvimento de tecnologias emergentes, o levantamento indica quais variáveis levaram a uma piora ou melhora em taxas de mortalidade nos países afetados pela pandemia.

Países com maior desigualdade social têm maior índice de óbitos por Covid-19, diz estudo — Foto: Celso Tavares/G1

Países com maior desigualdade social têm maior índice de óbitos por Covid-19, diz estudo — Foto: Celso Tavares/G1

Foram levantados mais de 200 indicadores de 211 países, extraídos de bancos de dados oficiais, como Datasus, IBGE e outros. Para condensar estes dados, foi utilizada uma solução de inteligência artificial, segundo um dos pesquisadores e chefe do laboratório, Adriano Veloso.

“Este modelo que a gente criou é capaz de juntar todas as variáveis, o que não é uma trivial. A gente gerou e treinou este modelo dia após dia, para ir prevendo ou predizendo a aceleração; quando o surto iria aumentar ou diminuir. Esta ferramenta ainda é capaz de reajustar automaticamente diante de um erro”, contou.

 

De acordo com Adriano, o modelo antecipa em até 15 dias o aumento do número de mortes e os principais motivos, em cada país, que seriam os “culpados” por este fenômeno.

“A gente construiu um modelo e antecipa em até 15 dias quantos óbitos vão crescer. E, ao fazer isso, o objetivo é conseguir explicar por que a aceleração vai aumentar. A explicação vem na forma das ‘culpas’. No Brasil, o grande número de pessoas que vivem em favela e a desigualdade social são os fatores que levam a número grande de mortes”, explicou Adriano.

 

Já em países europeus, por exemplo, o grande número da população idosa, vivendo em asilos, seria o fator responsável pelo número de óbitos. “A Bélgica sofreu muito, se considerar que não tem população muito grande. A Holanda, a Suíça, também. O que a nossa ferramenta ofereceu de explicação é que o fator culpado é o número de asilos. Esses países têm muitos asilos. Os enfermeiros saíam do hospital, iam assintomáticos e levavam para os moradores do asilo”, afirmou.

1º de julho - Idosa abraça diretora de casa de repouso na Bélgica — Foto: Yves Herman/Reuters

1º de julho – Idosa abraça diretora de casa de repouso na Bélgica — Foto: Yves Herman/Reuters

A proposta da ferramenta é, segundo o pesquisador, auxiliar o poder público a identificar o que está levando a pandemia expandir ou enfraquecer, de acordo com a situação de cada local. “A ferramenta pretende dar conta da complexidade para dar apoio aos gestores públicos do problema e todas as complexidades”, disse Gabriella Seiller, executiva da Kunumi.

O levantamento e os dados estão disponíveis para consulta no site.

Desaceleração

 

Sars CoV-2: carga viral pode predizer mortalidade — Foto: Maurizio De Angelis/Science Photo Library

Sars CoV-2: carga viral pode predizer mortalidade — Foto: Maurizio De Angelis/Science Photo Library

Pela primeira vez, em meados de agosto, a plataforma identificou uma desaceleração do contágio de Covid-19 no Brasil. A boa notícia, no entanto, é vista com ressalvas pelo pesquisador.

“O que a gente está vendo na ferramenta é que a aceleração está caindo abaixo de zero. Está começando a cair a velocidade de propagação. Isso é uma coisa muito boa. Porém, quando a gente vê a importância das variáveis que estão freando o espalhamento, que seria o fechamento das escolas, a gente preocupa quando vê que alguns estados estão retomando as aulas presenciais. Este relaxamento, não só do governo, mas da população que não respeita, isso é um perigo”.

 200 vídeos

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