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Ansiedade em tempos de pandemia

Como Lidar?

Publicado por: , em 20/08/2020 - Categoria: SAúDE E BEM-ESTAR

Tempo de leitura: 6 minutos

Diante da pandemia do novo Coronavírus, uma série de consequências vem protagonizando há cerca de cinco meses o cenário mundial, gerando impactos econômicos, sociais, políticos e, principalmente, na saúde, tanto físicos quanto mentais. Lidar com aspectos emocionais tem sido uma difícil tarefa com a nova rotina, já que lidar com distanciamento social e inúmeras informações diárias,  pode desencadear um desequilíbrio emocional e levar a algumas psicopatologias, como a ansiedade, por exemplo.

Júlio Custódio – Psicólogo

Com tantas dúvidas e incertezas, cuidar da saúde mental tem sido parte importante da prevenção. Mas como controlar os pensamentos que geram a ansiedade? O que fazer para manter a saúde mental em dia nesse período? Em meio a tantas perguntas, o psicólogo Júlio César Custódio, esclarece questões que podem te ajudar a passar por  essa fase. Confira!

  • O que significa ansiedade?

Dá-se o nome de ansiedade às reações do organismo ante a situações de medo, dúvida ou expectativa. A função dessas reações é preparar o organismo para o enfrentamento ou adaptação necessária no cotidiano de todos nós. Ao contrário do que comumente se pensa, trata-se de uma reação natural e é essencial para o ser humano, assim como, por exemplo, a dor.

  • Quais seus principais sintomas?

A ansiedade comum, natural, pode gerar tensão muscular, sudorese excessiva, problemas relacionados ao sono, falta de ar, taquicardia, preocupações exageradas, dor de cabeça, intestino desregulado, aperto no peito, irritabilidade, fadiga, dificuldade de concentração, inquietação.

Para compreender isso, lembre-se do seu primeiro beijo; ou de uma entrevista de emprego; uma prova difícil; ou quando se percebe sozinho, à noite, em uma rua deserta. Todas essas são situações geradoras de ansiedade, ou seja, que acabam exigindo alterações no organismo que o preparam para um enfrentamento adequado. São sintomas normais em resposta a situações normais.

  • Como diferenciar uma ansiedade comum de um transtorno de ansiedade?

No caso de um transtorno de ansiedade, o nível de ansiedade é desproporcional às situações vivenciadas, causando intenso sofrimento e comprometendo a qualidade de vida de uma pessoa.No caso de um transtorno, a pessoa pode começar a apresentar dificuldade em se relacionar ou trabalhar; manifestar atitudes de evitação de situações que antes lhe eram normais e que se tornaram muito aversivas. Além disso,no caso de um transtorno, os sintomas perduram, geralmente, por mais de seis meses.

  • Quando é indicado procurar por uma ajuda profissional?

A ajuda profissional é indicada para os casos em que a pessoa apresenta sofrimento ou tem perda em sua qualidade de vida. 

  • Existe alguma técnica para aliviar os momentos de ansiedade?

No momento de uma crise de ansiedade, é comum ocorrer falta de ar, que pode causar tremores, dormência nos membros, boca seca e dores no peito, elevando ainda mais o nível de ansiedade. Técnicas de respiração ajudam a aliviar ou evitar tais sintomas, auxiliando para que a ansiedade permaneça em um nível mais manejável. Quando possível, buscar pensamentos positivos também ajudam, evitando que a mente se concentre naquilo que é ruim, o que geraria mais medo, insegurança e, portanto, maior nível de ansiedade.

  • Na quarentena, por exemplo, as incertezas e dúvidas diante do cenário atual pode ocasionar momentos de ansiedade. Como identificá-los?

 É natural que um momento como o que vivemos atualmente gere a ansiedade natural, da qual falamos no início. A incerteza e limitações decorrentes da situação fazem com que o organismo reaja para o enfrentamento e readaptações necessárias. Se, entretanto, percebe-se sintomas como os descritos anteriormente, significa que o processo natural de enfrentamento ou readaptação não está ocorrendo como deveria.

  • Quais dicas você daria para amenizar a ansiedade nesse período?

Manter rotinas bem estabelecidas, de sono, alimentação e atividades; praticar exercícios físicos regulares; evitar o cultivo de pensamentos negativos; estar em contato (ainda que online) com pessoas que são especiais; dedicar tempo a si mesmo; aproveitar a oportunidade para aprender novas habilidades ou fazer coisas que, muitas vezes, antes da quarentena, não havia tempo hábil; buscar noticiários e atualização da situação de pandemia com moderação.

A vida é feita de transformações. Desejar manter-se na sua zona de conforto é natural do ser humano, mas acreditar que tem condições de se manter é uma fantasia que pode trazer falsas expectativas e, portanto, níveis mais elevados de ansiedade. Ainda que as situações da vida não lhe sejam as mais favoráveis, busque seu crescimento nas adversidades, compreendendo que você já venceu tantas situações difíceis, já lutou tanto! Viver é permanecer lutando, mas não significa que se deve estar em guerra. A luta é para aceitar em si mesmo aquilo que está aí, para então decidir o que pode ou precisa transformar; uma luta para se tornar uma pessoa melhor e tornar o seu mundo, um mundo melhor.

As incertezas em relação ao futuro estão entre as maiores preocupações de empresários, o que afeta no equilíbrio emocional diante de tantas preocupações e reflete no aumento do estresse do dia a dia. Para o professor Luiz Claúdio, a chave para a saída está em se reinventar e a busca por atividades saudáveis que ajudam na ansiedade. Já para Tamirys, o medo e as dúvidas cederam espaço para descobertas de uma nova rotina de cuidados com a saúde mental. E você, o que tem feito para aliviar o estresse? Aproveite para se inspirar nos depoimentos compartilhados.

 

Luiz Cláudio Travassos, 56 anos; professor e empresário

“A palavra-chave é essa mesmo: REINVENTAR. Precisamos nos reinventar, sair da rotina. Mas como fazer isso com todas as incertezas desse momento? É preciso ter muita cautela e, ao mesmo tempo, controlar a ansiedade que bate em todos nós. Em alguns momentos sentia taquicardia e angústia por não saber o que estava por vir. Mas, por sorte, nos últimos anos adquiri o hábito de correr e me exercitar nos momentos mais difíceis. Quando corro me sinto melhor, menos ansioso e mais confiante que tudo isso vai passar. Todos nós estamos sendo atingidos nesse momento. Com prejuízos financeiros e fragilidade na saúde mental. Mas também tenho rezado e pedido a Deus proteção e sabedoria para aguentar o que ainda está por vir.”

 

 

Tamirys Ferreira – 29 anos; esteticista

“As  minhas primeiras preocupações eram estritamente ligadas a saúde, o instinto de proteção aos nossos familiares mais vulneráveis e a incerteza de como seriam os sintomas do coronavírus. Eram preocupações que percorriam minha mente noite e dia. Cada notícia nos jornais ou atualização nas redes sociais me gerava ansiedade para saber o que deveria temer. Confesso que me vi conferindo notícias até dos outros países., inconscientemente, e a ideia de que o vírus pudesse alcançar as pessoas que amo foi capaz de me fazer ficar procurando notícias que atacavam ainda mais os sintomas de ansiedade. Posso dizer que viver esse período, foi um caminho de descobertas. Percebi o que e quem de fato são importantes e essenciais na minha vida. Pude me dedicar a uma nova paixão que é o Yoga e percebi benefícios do famoso “desacelerar”. A prática me ajudou a aliviar a ansiedade, mas claro que inicialmente não é fácil, assim como tudo na vida, mas com o passar dos dias pude comemorar pequenas vitórias e evoluções nos movimentos. Hoje estou mais tranquila com relação a tudo que está acontecendo, porque o pânico inicial já não habita mais o meu coração. Precisei também me reinventar no momento de honrar os compromissos financeiros e manter o meu negócio funcionando e atendendo todas as normas e orientações de saúde. Aprendi bastante sobre prioridades, sobre autocontrole, autocuidado e, por último, mas não menos importante, aprendi que não somos nada sozinhos. Precisamos uns dos outros até para nos proteger. Até no momento de fazer um isolamento social precisamos da colaboração de outras pessoas. Cada um precisa fazer a sua parte para que lá na frente tenhamos colocado em segurança todos que amamos”.