Revista Fato

menu Menu

China detecta coronavírus em amostra de frango importada do Brasil

Produto veio de frigorífico do sul de Santa Catarina. Testes feitos por autoridades chinesas em pessoas que tiveram contato com a mercadoria deram negativo

Publicado por: , em 13/08/2020 - Categoria: MUNDO

Tempo de leitura: 4 minutos

Carga de asas de frango que chegou a Shenzhen, no sul do país asiático, foi confiscada | Foto: RODOLFO BUHRER / Reuters

PEQUIM — Uma amostra de asas de frango congeladas importadas do Brasil, de um frigorífico de Santa Catarina, apresentou resultado positivo para o novo coronavírus, segundo comunicado do governo chinês divulgado nesta quinta-feira.

A amostra foi retirada da superfície do frango, o que torna o caso diferente dos anteriores, segundo a Bloomberg. As outras amostras de comida congelada que tiveram o resultado positivo para o vírus tinham material recolhido da superfície das embalagens.

As autoridades procuraram agir rapidamente e informaram que submeteram imediatamente a exames de diagnóstico as pessoas que tiveram contato com os produtos contaminados, assim como seus parentes. Todos os testes apresentaram resultado negativo, segundo o comunicado.

A contaminação do alimento pode provocar queda das exportações para a China, que é o maior consumidor do produto brasileiro. A embaixada brasileira em Pequim ainda não se pronunciou sobre o caso.

— É difícil dizer em que estágio o frango congelado foi infectado — disse à Reuters um funcionário de um exportador de carne brasileiro com sede na China.

 

Açougueiro fatia carne em Shenyiang, na China: país asiático preocupado com contaminação do produto pelo vírus. | Foto: STR / AFP

A amostra diagnosticada com coronavírus é do frigorífico Aurora, segundo autoridades chinesas. A empresa foi procurada, mas ainda não retornou o contato.

Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) disse “ainda não está claro em que momento houve a eventual contaminação da embalagem, e se ocorreu durante o processo de transporte de exportação”.

A ABPA reiterou que não “há evidências científicas de que a carne seja transmissora do vírus”, de acordo com organismos internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

O Ministério da Agricultura afirmou que ainda não foi notificado oficialmente do caso pelo governo chinês. Por meio de nota, a pasta alegou que “acionou imediatamente” a Adidância Agrícola em Pequim, que consultou a Administração Geral de Aduanas da China (GACC) e que “está buscando as informações oficiais que esclareçam as circunstâncias da suposta contaminação”.

A amostra foi considerada positiva para o vírus durante testes de rotina no distrito de Longgang, em Shenzen, na terça-feira. E foi confirmada num reexame pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças local, disse o jornal South China Morning Post.

Análises de rotina têm sido realizadas em carnes e frutos do mar importados desde junho, quando um novo surto em Pequim foi associado a um mercado atacadista de alimentos na cidade de Xinfadi.

Camarão do Equador

O coronavírus também foi encontrado numa amostra de embalagem de camarão congelado do Equador em Xian, capital da província de Shaanxi, no noroeste da China. Na província de Anhui (Leste), também foi detectada presença do vírus em pacotes do crustáceo procedentes do Equador.

Em julho, autoridades chinesas já haviam encontrado coronavírus em embalagens de camarão importadas do Equador.

 

Produtos congelados à base d camarões importados em Pequim. | Foto: Carlos Garcia Rawlins / REUTERS

O chefe de microbiologia do laboratório do Centro Nacional de Avaliação de Segurança Alimentar da China, Li Fengqin, disse a jornalistas na época que a possibilidade de alimentos congelados causarem novas infecções não poderia ser descartada

Suspensão

No final de junho, a China suspendeu importações de três processadores brasileiros de carne, por suspeita de coronavírus. Em nota, na época, o Ministério da Agricultura disse que o órgão chinês responsável pela área, a Administração Geral de Alfândega da China (GACC, na sigla em inglês) “solicitou informações sobre alguns estabelecimentos brasileiros que exportam para a China e que tiveram notícias divulgadas na imprensa do Brasil sobre casos da Covid-19 entre seus trabalhadores”.

No início de julho, testes em massa revelaram um surto de infecções por coronavírus em fábricas operadas pelas processadoras de alimentos JBS e BRF no Centro-Oeste do Brasil. Um total de 1.075 empregados de uma fábrica de suínos da JBS testaram positivo para Covid-19.

 

Frigoríficos tiveram surto de casos de Covid entre funcionários. | Foto: Agência O Globo

Outros 85 trabalhadores também testaram positivo em frigorífico de aves da BRF na cidade, onde a empresa emprega cerca de 1.500 pessoas. Dias depois, a China suspendeu temporariamente as importações de uma fábrica da BRF em Lajeado e de uma da JBS em Três Passos, ambas no Estado do Rio Grande do Sul.

Maior comprador

A China é o maior comprador de carne suína e bovina do Brasil. O país asiático solicitou que os exportadores de carne certifiquem-se globalmente de que seus produtos estão livres de coronavírus.

O Brasil, maior produtor mundial de carne de frango, era até 2017 o principal fornecedor de frango congelado para a China, por um valor que se aproximava de US$ 1 bilhão por ano e um volume que representava quase 85% das importações do gigante asiático.

Mas, nos últimos anos, o país perdeu parte do mercado para Tailândia, Argentina e Chile, de acordo com a consultoria especializada Zhiyan.

Testes em frigoríficos

O Ministério Público do Trabalho (MPT)  do Brasil conduz dede julho mais de 200 investigações com o objetivo de averiguar o que tem sido feito para evitar que o coronavírus se alastre pelos frigoríficos brasileiros.

Especialistas consultados pelo GLOBO afirmam que não só no Brasil, mas em países como EUA e Alemanha, a atividade apresentou número elevado de infectados por conta do ambiente de trabalho considerado de risco para a disseminação da doença.

— Todo ambiente fechado, mal ventilado e onde as pessoas trabalham muito próximas tem maior risco e os frigoríficos estão nessa categoria — afirmou Rosana Richtmann, médica Infectologista do instituto de Infectologia Emilio Ribas, de São Paulo.

Matéria replicada do portal O GLOBO